Quem sou eu

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Um vagabundo do infinito. Por ter iniciado minha vida artística na ditadura sempre utilizei pseudônimos. Poeta da chamada "geração mimeógrafo". Colaborei em alguns jornais e revistas, criei e editei a revista "Energia", o programa de rádio "Solitário nunca mais", atuei e/ou dirigi diversos espetáculos teatrais, entre eles: "Teatro relâmpago Show", "Curso para Contemporâneos", "O Labirinto", "Noites em Claro", "Vida Acordada", "A Improvisação da Alma" e "Dorotéia". Criei e dirigi o grupo de pesquisa teatral "Vagabundos do Infinito". No momento além do single "Canção ao coração de Andressa" estou lançando o álbum musical "Misturadinho" em parceria com Paulo Guerrah e JMaurício Ambrosio.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Antes que dezembro termine. Uma história real.



Antes que dezembro termine, quero aproveitar esse clima de recordações, lembranças e crenças para contar uma história incrível. O “incrível” aqui não é retórico ou metafórico, sei que é uma história difícil de crer, mas posso garantir uma coisa: não tem absolutamente nada de ficção nela, e aconteceu comigo e mais importante, tenho testemunhas. Meninos, eu vi!

Datas, não posso garantir muito, nunca me preocupei com elas, mas os acontecimentos são inesquecíveis. Se não estou enganado era junho de 1976. Eu e meu amigo O. de Abreu havíamos combinado uma viagem. Iríamos para a festa do Divino em Paraty e depois para Trindade. Na terça ou quarta-feira da semana em que iríamos “descombinamos” a viagem porque ambos estávamos completamente duros. Na quinta eu consegui um trabalho de divulgação e recebi um adiantamento. Recombinamos a viagem. Nos encontramos no dia da viagem e fomos, no carro de O. de Abreu, um fusca branco, até o Bairro do Peixoto, em Copacabana, onde eu morava com minha mãe, para que eu pegasse minha mochila. Quando chegávamos à pracinha do Bairro do Peixoto, havia uma vaga próxima da esquina, onde ficava o prédio em que eu morava. Dava para entrar de primeira, de frente. Quando o Abreu ia fazer isso eu, repentinamente disse: “Coloca naquela outra vaga ali na frente que ela é mais simpática!” A outra vaga a que eu me referia ficava entre dois carros, precisava manobrar. Abreu tentou replicar, já que não havia motivo para fazer o que eu dizia. Fui incisivo: “Faz o que eu estou dizendo!” Fui tão convincente que ele, meio a contragosto e reclamando quando teve que manobrar, estacionou na vaga que eu determinara. Subimos, demoramos 15 a 20 minutos. Descemos. Quando estávamos chegando à porta do prédio, Abreu, que caminhava um pouco à minha frente estaqueou espantado com alguma coisa. Quando cheguei à porta do prédio também fiquei pasmo. Na vaga próximo à esquina, onde Abreu iria estacionar, havia outro fusca branco. Sobre ele estava uma Brasília ou uma Variant (não lembro a marca, mas era esse tipo de carro). Havia batido e subido com duas rodas sobre o fusca. Depois de um momento de assombro, nos olhamos e Abreu perguntou: “Como você sabia?” Respondi apenas; “Eu não sabia”. Era verdade. Eu não tivera nenhum tipo de premonição consciente ou imaginara que pudesse acontecer qualquer coisa. Apenas segui minha intuição sem questionar, como sempre procurei fazer. Entramos no carro em silêncio e partimos. Se você está pensando que a história termina aqui, se enganou. Essa, aliás, nem é a parte incrível da história. O incrível, o surpreendente, o inexplicável, vem a seguir.
Procissão do Divino Espírito Santo. Paraty.

Chegamos a Paraty. No dia anterior à saída da procissão do Divino Espírito Santo a cidade estava em festa. À noite, bares cheios e muita gente pelas ruas comemorando. Entramos no clima e passamos a noite zanzando pela linda cidade. Era a primeira vez que eu ia a Paraty. Lá pelo fim da madrugada eu estava cansado e fui para trás da igreja em busca de um pouco de sossego e silêncio. Sentei-me sozinho, encostado na parede da igreja para esperar o dia amanhecer. Tínhamos combinado ver a procissão do Divino e depois seguir para Trindade. Passei algum tempo ali sentado. Quando o dia começava a amanhecer reparei que no céu totalmente limpo havia apenas uma pequena nuvem em forma de charuto. Na falta do que fazer fiquei observando-a. Ela estava à minha esquerda, mais ou menos no meio do céu, entre o horizonte e o zênite. Vinha deslizando lentamente, da esquerda para a direita, no sentido horizontal. Fiquei acompanhando seu deslizar. Quando ela chegou à minha frente, parou. Nesse mesmo momento, os sinos da igreja começaram a tocar de modo ensurdecedor. A ideia devia ser a de acordar toda a cidade. A nuvem então começou a modificar sua forma e tamanho. Cresceu umas cinco, seis vezes de tamanho e tomou a forma exata da pomba de asas abertas que é símbolo do Espírito Santo. Sem se deslocar mais. Os sinos tocavam alucinadamente. De repente, com uma incrível rapidez, a nuvem foi diminuindo de tamanho, sem perder a forma de pomba, até desaparecer completamente. A impressão que eu tive foi que ela foi se afastando, subindo para o espaço até sumir. Só que a velocidade era absurda para uma nuvem. Não acreditei no que vi. Pensei ter tido alguma epifania alucinatória, talvez provocada pela noite sem dormir, somada a algum teor alcoólico (embora quase não tivesse bebido) e ao barulho ensurdecedor dos sinos. Levantei aturdido e fui caminhando até a praça. Quando cheguei, avistei meu amigo, de pé, acompanhado de uma garota. Fui até eles. Quando me aproximei, antes de qualquer coisa, fui falando: “Cara, acabei de ver uma coisa incrível, mas não sei se era real ou alguma alucinação”. Meu amigo respondeu imediatamente: “Você viu a pomba também?” Fiquei pasmo. Eles também tinham visto. Perguntei sobre os detalhes, ainda incrédulo, e eles confirmaram tudo. Fiquei atônito. Aquilo não podia ser real. Preferia que fosse uma alucinação, mas não havia como.
Igreja da Matriz. Paraty.

Quero esclarecer a você, que eu não tinha e continuo não tendo religião alguma. Acho o que aconteceu quase ridículo de tão absurdo, mas não tenho nenhuma explicação razoável sequer para o comportamento da nuvem. Se eu fosse um crente, talvez ficasse muito tocado pelo ocorrido, mas aquilo, para mim parecia apenas insano.
Hoje, olhando para trás, percebo que aquele momento foi apenas o início de uma série de fatos absolutamente fantásticos que ocorreram, a seguir, em minha vida. Mas essas são outras histórias que talvez algum dia eu conte. Passei a entender o que o antigo bardo queria dizer com “Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.
Não se preocupe se não acreditar no que acabei de contar. Não ficarei chateado. Embora eu tenha vivido exatamente o que contei, tem coisas em que é melhor não acreditar. Tem gente que prefere a pílula azul, tem gente que prefere a vermelha.

É isso. Um feliz 2011.          Paulo Márcio       






Ps.: Todas essas imagens foram retiradas da internet.

sábado, 18 de dezembro de 2010