Quem sou eu

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Um vagabundo do infinito. Por ter iniciado minha vida artística na ditadura sempre utilizei pseudônimos. Poeta da chamada "geração mimeógrafo". Colaborei em alguns jornais e revistas, criei e editei a revista "Energia", o programa de rádio "Solitário nunca mais", atuei e/ou dirigi diversos espetáculos teatrais, entre eles: "Teatro relâmpago Show", "Curso para Contemporâneos", "O Labirinto", "Noites em Claro", "Vida Acordada", "A Improvisação da Alma" e "Dorotéia". Criei e dirigi o grupo de pesquisa teatral "Vagabundos do Infinito". No momento além do single "Canção ao coração de Andressa" estou lançando o álbum musical "Misturadinho" em parceria com Paulo Guerrah e JMaurício Ambrosio.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Espírito da Coisa - Corrupto



Minha insincera homenagem ao Renan Calheiros e a todos os políticos brasileiros (ou seria quadrilheiros?).

Outro olhar sobre a tragédia de Santa Maria.

























Manifestações no memorial às vítimas da tragédia de 27/01/2013 em Santa Maria após 7 dias.
O clamor por justiça agora é tão forte quanto a dor. A terrível dor dos que perderam seus entes queridos é compartilhada pela comunidade. Quase todos na cidade conheciam alguém que se foi. A comoção, no local, ainda é grande. A tragédia marcará a cidade por muitos e muitos anos. Espero, como todos, que a justiça, tão ineficiente nesse país, seja feita. Que todos os responsáveis por essa tragédia sejam punidos, inclusive as autoridades (in)competentes. Espero também que as dezenas de vítimas que ainda correm perigo nos hospitais consigam se restabelecer. E que que tragédias semelhantes possam, de agora em diante, ser evitadas definitivamente. Precisamos mudar esse país urgentemente. Impunidade, corrupção, descaso, irresponsabilidade MATAM. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Parece que no Japão ainda é assim...


Ontem escrevi o que chamei de um não-poema sobre a tragédia de Santa Maria. Nele faço um contraponto com o Japão, com a cultura japonesa que preserva a honra, a dignidade e onde as pessoas se sentem envergonhadas por maus feitos a ponto de elas próprias se punirem inclusive com o suicídio em alguns casos. Disse que não sabia se ainda era assim no Japão de hoje, em vista da ocidentalização do país.
Creio que fica claro que falo de um Japão idealizado, quase fictício, embora fundamentado nessa cultura da honra que faz parte da tradição desse povo.
Para minha surpresa, hoje, um dia após eu escrever e publicar meu texto, na verdade cerca de oito horas depois, ao ler o noticiário pela internet, me deparo com essa notícia publicada no G1, sobre uma cantora que raspou a cabeça e postou um vídeo onde, em prantos, pede desculpas por seu ato, de ter "ficado" com um rapaz. Parece que isso era vedado às integrantes da banda à qual a jovem pertencia.
Foi uma grande coincidência. Embora eu não entenda nada da língua japonesa e não saiba o que ela disse no vídeo. Fico feliz de ver que no Japão as pessoas ainda prezam a honra, a dignidade e têm vergonha na cara inclusive para assumir seus erros.
Se você quiser ler a matéria do G1, o link é esse: http://g1.globo.com/musica/noticia/2013/02/cantora-japonesa-raspa-cabeca-como-castigo-por-passar-noite-com-jovem.html

Isto não é um poema

Eu vi o noticiário, 
nem precisava, pois tudo aconteceu aqui, pertinho de casa.
E continua acontecendo.
Vi o prefeito e ele mentia, na maior cara lavada,
Vi o chefe dos bombeiros e ele mentia, na maior cara lavada
(fiquei sabendo que aqui até os heróis mentem).
Vi os donos da boate e eles mentiam, na maior cara lavada,
Vi os músicos e eles mentiam, na maior cara lavada,
Vi o advogado e ele mentia – bem, isso não é novidade –
Na maior cara lavada,
Cara lavada de vergonha que eles perderam.
Vi a morte e ela não mentiu. Ela não.
Ah se fosse no Japão... há um tempo atrás
(não sei se hoje ainda é assim).
Alguns teriam se matado frente à desonra,
De vergonha.
Dizem que um dos donos tentou e não conseguiu.
Se não foi encenação (diante de tanta mentira, perdoem se desconfio)
Talvez ao menos um não tenha lavado da cara a vergonha,
Talvez tenha ficado um pouquinho, como um resto de maquiagem.
Ah, se fosse no Japão...
Mas não.
Aqui não se aprende mais honra, ao contrário,
Se aprende a ser esperto – no pior sentido da palavra,
Se aprende a ser corrupto – porque dá lucro.
Afinal são eles que nos governam,
É neles que nós votamos – menos eu, que não voto há décadas, por opção,
Por vergonha de votar em ladrão.
Ah, se fosse no Japão...
No Japão se aprende a ter honra, acima de tudo,
Como parte da condição de ser humano.
Mas aqui, não.
Devia ter uma cadeira de Honra, antes de se aprender
O português, ou a matemática.
Aprendi de meus avós, de meus pais,
De meus amigos de infância – palavra de rei não volta atrás,
Essa era a lei. No tempo em que se brincava na rua...
Mas hoje, talvez lá no Japão se ensine honra,
Porque faz parte da tradição.
Aqui, não.
O prefeito, no Japão, se não fizesse o harakiri,
Ao menos deixaria seu cargo envergonhado
E abandonaria para sempre a política.
Aqui, ele mente, e na próxima eleição vai pedir seu voto.
Sorrindo.
O bombeiro, deixaria sua função, porque falhou
E teria vergonha. Não ia querer ser mau exemplo
Para as crianças que o veem como um herói,
Que eles, os bombeiros, são.
(Ainda mais aqui, onde recebem parcos salários
E trabalham sem equipamentos adequados – diferente do Japão).
Li que eles entravam com essas máscaras de papel,
Que compramos na farmácia,
Naquela fumaça venenosa. Para salvar vidas.
Sim, esses são heróis e deviam ser tratados pelo que são.
Mas não são. E um deles autorizou o que não podia.
Como um herói pode não ter honra, não ter vergonha?
Não são assim os heróis lá no Japão.
Talvez o parco salário tenha proporcionado a corrupção,
Talvez não. Talvez apenas um emaranhado de leis confusas
Que são assim para que sirvam melhor aos poderosos
(são eles, apenas eles que as fazem)
O tenha impedido de agir quando devia.
Mas havia muita coisa fora da lei
E do bom senso – este a maior das leis.
E o prefeito ao invés de envergonhadamente
Deixar seu cargo pedindo desculpas aos seus eleitores,
Aos que ainda estão vivos, aos que perderam seus filhos
E seus amigos,
Vem a público dizer que não tem nada a ver com isso,
Que estava tudo correto e dentro da lei.
Que lei? Como assim?
Que não era responsabilidade da Prefeitura.
Como? Se agora, depois do ocorrido,
São as prefeituras que estão fechando
Os locais inseguros em suas cidades.
Mesmo aqui, mesmo ele!
Não, definitivamente não é assim,
Lá no Japão.
Precisamos criar uma cultura
Que ensine novamente a ter honra, palavra,
Consideração e vergonha na cara.
Mas como fazer se quem nos governa
São os piores entre nós?
São quadrilhas – crime organizado!
Está todos os dias estampado nos jornais!
E gastamos quase cinquenta bilhões anuais para sustentá-los.
E ainda nos roubam!!!
E roubam a vida de nossos jovens!!!
Porque corrupção mata. Mata muitos.
Falta de vergonha também.
No Japão também tem corrupção,
Mas dá cadeia, ou suicídio.
Aqui dá ibope.
Para que este não-poema
Não fique parecendo apenas desabafo
Ou reclamação,
Fica uma modesta sugestão:
A criação de uma constituinte
Onde seja vedada a participação de qualquer político
Ou ex-político profissional.
(Só aqui política é profissão,
Não é assim lá no Japão).
Nem de nenhum parente desses.
E nem de religiosos profissionais,
Deus nos livre! (qual será o deus no Japão?)
Apenas gente letrada e sem antecedentes criminais.
Que será impedida de se candidatar até a síndico de prédio,
Para que não tirem disso vantagens pessoais.
E que se mude tudo, com leis que funcionem
Igualmente para todos, com uma Justiça ágil e rápida.
Que se invista seriamente
E inteligentemente em educação.
Foi assim lá no Japão.
Que o sistema de saúde funcione para todos,
Como no Japão.
E, sim, teremos que construir muitos presídios,
Pra botar toda essa corja.
Mas que neles os presos trabalhem para comer.
E que nenhum vereador, prefeito, deputado, senador,
Governador ou presidente, se ainda existirem
Essas funções, nada recebam por elas.
Ou que recebam um salário-mínimo.
Sim, um salário-mínimo!
Enfim, que tenhamos dignidade,
Honra, respeito, consideração,
Como no Japão.
Somos um país rico,
Mais rico do que era o Japão.
E lá tem terremoto, furacão, tsunami,
Aqui, não. Aqui só tem ladrão.
E somos nós que os sustentamos!!!
Nós os que trabalhamos,
que tentamos ter dignidade,
honra, palavra, respeito.
Sim, ainda tem disso aqui, mas só entre os vencidos.
Nós perdemos. Mas ainda estamos aqui.
Nós que criamos nossos filhos,
Que tentamos educá-los para o bem,
Temos que olhar para esses filhos
Que se foram, mortos,
Jogados aos montes nos caminhões frigoríficos,
E fazer com que não tenha sido vão
Este sacrifício.
Nós, os que ainda temos vergonha.
Vamos fazer daqui um grande Japão.
O nosso Japão. Por que não?