Quem sou eu

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Um vagabundo do infinito. Por ter iniciado minha vida artística na ditadura sempre utilizei pseudônimos. Poeta da chamada "geração mimeógrafo". Colaborei em alguns jornais e revistas, criei e editei a revista "Energia", o programa de rádio "Solitário nunca mais", atuei e/ou dirigi diversos espetáculos teatrais, entre eles: "Teatro relâmpago Show", "Curso para Contemporâneos", "O Labirinto", "Noites em Claro", "Vida Acordada", "A Improvisação da Alma" e "Dorotéia". Criei e dirigi o grupo de pesquisa teatral "Vagabundos do Infinito". No momento além do single "Canção ao coração de Andressa" estou lançando o álbum musical "Misturadinho" em parceria com Paulo Guerrah e JMaurício Ambrosio.

sábado, 18 de abril de 2020

EM DEFESA DOS VELHOS



Alguns esclarecimentos iniciais: como muitas pessoas eu vi a fala do atual ministro da saúde, fala esta bem anterior à sua posse, mas que não deixa de ser seu pensamento, onde diz claramente que se tivesse que gastar o mesmo dinheiro na opção de só poder salvar um, entre um jovem e um velho, salvaria o jovem. Como já sou velho (não gosto do termo idoso) fiquei indignado. Também li em alguns comentários que essa seria uma parte da ética médica ensinada nas faculdades de medicina. Fiquei mais indignado ainda. Parece lógico, não? Parece, mas não é. Discorrerei a seguir sobre o porquê considero esse um argumento falso. Primeiramente com humor, que talvez seja o modo mais profundo de abordar a questão, embora quase sempre não pareça, posteriormente com argumentos ditos sérios. Vamos lá:
1-     Os seres humanos costumam fazer muita merda ao longo da vida. Acho que esse é um ponto pacífico. Tem gente demais no mundo. Outro ponto pacífico. Um jovem, por ter uma expectativa de vida maior vai fazer muito mais merda ainda do que um velho, que já fez a maior parte de merda em sua vida, que já diminuiu seu ritmo de fazer merda e por ter uma expectativa de vida menor, fará bem menos merda que o jovem. Portanto, será melhor para o mundo que se salve o velho. Além disso, o jovem tem mais possibilidade de ter filhos, que farão mais merda ainda, além de aumentar o índice populacional. É uma opção insana salvar o jovem.
2-     A segunda coisa é sobre a expectativa de vida. Não passa disso, expectativa. Vou dar um exemplo: digamos que o médico opte por salvar o velho e este viva mais dez anos. Ok, a expectativa de vida do jovem seria maior. Porém, digamos que na mesma situação o médico opte por salvar o jovem e, na semana seguinte à alta, esse jovem morra num acidente (jovens são mais propensos a isso) ou por qualquer outro motivo. Teria valido à pena, considerando que a missão do médico é preservar a vida de um modo geral. Não teria sido um desperdício de vida? Expectativa é uma coisa, realidade é outra. Não há como saber, de fato, quem morreria primeiro. Portanto a escolha não deveria se basear em algo desconhecido. Mas no que se basear, então?
3-     O ministro enfatiza a questão econômica “gastar o mesmo dinheiro”. Bem, a não ser que ele seja dono de um hospital ou clínica, não é ele quem vai gastar o dinheiro, somos nós, pagadores de impostos ou dos planos de saúde. Jovens raramente pagam impostos, a não ser os que qualquer cidadão paga, embutido no que se consome. Velhos são quem paga os impostos, de renda, da previdência, etc., além da maioria dos impostos embutidos no que os jovens consomem. São esses impostos que mantém os hospitais públicos e em parte os privados que recebem dinheiro do governo, além dos salários dos médicos e enfermeiros do sistema de saúde público. Se morrem todos os velhos, como no caso dessa pandemia que faz mais vítimas nessa faixa de idade, e faz muitas, como vai ficar a manutenção desses hospitais e dos salários de seus trabalhadores? Economicamente também é melhor salvar o velho.
4-     Por fim, mas não menos importante, vem a questão da sabedoria e experiência dos velhos. Cultuada nas culturas mais sólidas, mas não na nossa. Quem tem a experiência de vida? Quem vai saber agir diante de circunstâncias inesperadas? Quem tem a cultura, a experiência de vida, e já viveu e superou inúmeras dificuldades? E quem vai ensinar aos jovens? Quem vai ensinar aos médicos, aos engenheiros, aos empresários, aos filósofos, enfim quem vai ensinar aos profissionais qualquer ofício? O mundo contemporâneo ocidental, principalmente, passou a cultuar os jovens, que tem seus encantos, é verdade. A juventude é bela, é sensual, e vende. Talvez esse tenha sido o motivo, mas foi um grande erro. As consequências são óbvias e não me estenderei sobre isso. A juventude passa, os velhos sabem bem disso, afinal já passou pra eles. Mas a idade trouxe algo bem mais importante pra humanidade: a sabedoria. Nada mais necessário para a humanidade nesse momento de crise.
5-     Para finalizar, é claro que existem questões de caráter, de cultura, de habilidades e diversas outras que engrandecem o ser humano. Independente, em parte, da idade. Então, que sejam levadas em conta essas características, e não a idade. Também é claro que o melhor é nos prepararmos para que não haja a necessidade de escolha, como no caso citado. Que possamos salvar todas as vidas que disso necessitem. Esse foi um dos erros que citei acima. Os médicos, nesse momento, já estão tendo que escolher quem vive e quem morre. Nos próximos dias isso será ainda intensificado. Não estão divulgando isso, mas já é um fato. Por fim, como já é, infelizmente uma realidade, concluo, a favor dos velhos com o argumento de que um jovem tem muito mais possibilidades de se salvar sem ir para um respirador do que um velho, que certamente morrerá sem isso.                                     
                                                                                                                  Pomar, 2020.

domingo, 12 de abril de 2020

Um poema pro momento.



A ESPERA
Sei que tenho que esperar;
O difícil é ficar impassível
Quando cada segundo
Dói na carne.
Ainda mais porque sei
Que cada segundo é eterno.
Sua luz, sua energia
espalham-se infinitamente
Pela imensidão do Universo.
E o Universo também sofre,
Ele precisa dos segundos
Em que estamos juntos.
E que sejam muitos
Pois o Cosmos carece desse amor.
Cada segundo sem você
É vazio e dor
Contaminando as estrelas,
Isso gera o caos
E pode destruir tudo.
É preciso que fiquemos juntos
Muitos segundos,
O equilíbrio de tudo
Depende disso,
Desse amor percorrendo o espaço
Acendendo as estrelas,
Dando vida aos mundos
Mais distantes.
Não me faça esperar tanto,
Pois se deliro nesse instante
Da espera
É seu encanto
O que me cura
Quando lhe encontro.
                                                    Pomar.