Quem sou eu

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Um vagabundo do infinito. Por ter iniciado minha vida artística na ditadura sempre utilizei pseudônimos. Poeta da chamada "geração mimeógrafo". Colaborei em alguns jornais e revistas, criei e editei a revista "Energia", o programa de rádio "Solitário nunca mais", atuei e/ou dirigi diversos espetáculos teatrais, entre eles: "Teatro relâmpago Show", "Curso para Contemporâneos", "O Labirinto", "Noites em Claro", "Vida Acordada", "A Improvisação da Alma" e "Dorotéia". Criei e dirigi o grupo de pesquisa teatral "Vagabundos do Infinito". No momento além do single "Canção ao coração de Andressa" estou lançando o álbum musical "Misturadinho" em parceria com Paulo Guerrah e JMaurício Ambrosio.

domingo, 25 de outubro de 2020

 

Nessa manhã de domingo chuvosa, sentado na rede, na varanda, reparando, quando a chuva estiou, na claridade esbranquiçada do sol, ainda oculto, fazendo as folhas umedecidas brilharem, as gotas de chuva penduradas se tornarem pequenas joias, ouvindo os cantos dos pássaros enquanto eventualmente os fotografava quando vinham assustados comer a banana que eu colocara na cerca para que se alimentassem. No meio disso lendo Bradbury e me deparando com um conto maravilhoso chamado “Eu canto o corpo elétrico!”. Outro canto que encanta, enleva e acaricia o pensamento, dessa vez na forma de letras e palavras e poesia que nós, macacos pelados desenvolvemos ao longo do tempo. O canto do espírito humano que eu lia em um dispositivo elétrico, como Ray o chamaria, ou eletrônico ou digital como o chamamos. Como eu queria dividir, compartilhar a emoção sentida! Pensei eu quantos conhecidos teriam tido esse prazer, quantos amigos, amores, familiares teriam se deleitado com essa breve e deliciosa história. Concluí que talvez nenhum. Bradbury não é muito popular por aqui. Sabe quando vemos um bom filme com os amigos e depois vamos para um café ou um bar trocar ideias e impressões sobre o mesmo, dividindo a experiência e ao mesmo tempo a ampliando? Quando a emoção, a experiência estética parece grande demais para guardarmos apenas dentro de cada um e sentimos a necessidade de compartilhá-la? Me senti assim. Por isso escrevo e compartilho. Ler um livro é uma experiência solitária, mas se mais de um o leu podemos dividir e ampliar essa experiência. Como se uma avó carinhosa contasse uma história para os netos e depois eles pudessem, num conluio conspiratório, trocar opiniões e impressões sobre o que ouviram e sobre como a avó sabia contar histórias. De modo indireto estou me referindo ao conto.

Por esses dias escrevi no Facebook que queria uma androide pra chamar de minha. Podem ter entendido isso de vários modos, mas Bradbury deu a resposta. Nos diz como podemos utilizar bem as incríveis capacidades que ainda podemos desenvolver. Provavelmente não o faremos desse modo, infelizmente. São muito poucos que o leem, são poucos que contemplam a vida com a poesia necessária, como se esta fosse a avó carinhosa e esperta que nos conta histórias que nos encantam. O corpo elétrico que Ray Bradbury canta é o corpo da vida, passada, presente e futura. Um canto belo de um pássaro oculto na mata. Um canto que vem do passado e voa em direção ao futuro, mas que podemos registrar no presente como no instante fixado em uma fotografia. 

                                                                                                                Pomar