Palavras, palavras,
o que são as palavras?
Que substância as compõe?
Palavras não tem cheiro
nem sabor,
e você não pode pegá-las.
Pode talvez tocá-las com os dedos
quando as encontra escritas,
experimente agora.
E por mais suave e sensível
seja seu toque,
pouco poderá saber delas.
Você não pode comê-las,
pode apenas ler e ouvi-las
e tentar entender seu sentido,
mas não há sentido nenhum,
não pode ser sentido.
Sua substância é a mesma
que compõe o vento,
mas as palavras não agitam seus cabelos
nem arrepiam sua pele,
não têm dimensão.
Você não pode bebê-las
nem usá-las como um bálsamo,
não pode colhê-las.
Não pode nem mesmo percebê-las,
pois digo uma coisa
e você ouve algo diverso,
e nada pode ser definido
em palavras.
E no entanto
você não pode viver sem elas.
Estão em seu pensamento
todo o tempo
quando não é silêncio,
e o que você diz de algo
não é a coisa em si,
e o que tem da coisa no que diz
está no silêncio entre as palavras,
no espaço entre elas.
E o espaço é um lugar
muito perto do nada.
Palavras...
O que quero dizer
não pode ser dito
nem escrito,
você não pode saber
o que sinto.
Olhe em meus olhos
profundamente
e só verá o escuro,
o negrume que os guia para a luz
e, ainda assim, negrume.
E ver o escuro
é muito perto de nada ver.
Tente tocar minha pele
como tentou tocar as palavras
agora há pouco.
Pouco poderá saber de mim,
a não ser que habito um corpo
que não possuo
entre os segundos que pontuam a eternidade.
Minha morada
é o nada entre um tempo e outro tempo,
e seu toque desfaz
o pouco que restava de mim,
deixando apenas em seus dedos
o brilho sutil como um pó
do que fora a asa de uma borboleta
que me sonhou.
Palavras, palavras, palavras,
não posso tocá-la
com elas,
nem com meus dedos,
nem posso bebê-la com meus lábios,
não posso dizê-la.
Sou o silêncio entre elas
o espaço entre estrelas
que já se extinguiram,
mas cuja luz viaja infinitamente,
e as palavras
nada podem dizer do silêncio que as contém.
Pomar.
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