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Um vagabundo do infinito. Por ter iniciado minha vida artística na ditadura sempre utilizei pseudônimos. Poeta da chamada "geração mimeógrafo". Colaborei em alguns jornais e revistas, criei e editei a revista "Energia", o programa de rádio "Solitário nunca mais", atuei e/ou dirigi diversos espetáculos teatrais, entre eles: "Teatro relâmpago Show", "Curso para Contemporâneos", "O Labirinto", "Noites em Claro", "Vida Acordada", "A Improvisação da Alma" e "Dorotéia". Criei e dirigi o grupo de pesquisa teatral "Vagabundos do Infinito". No momento além do single "Canção ao coração de Andressa" estou lançando o álbum musical "Misturadinho" em parceria com Paulo Guerrah e JMaurício Ambrosio.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Palavras



Palavras, palavras,

o que são as palavras?

Que substância as compõe?

Palavras não tem cheiro

nem sabor,

e você não pode pegá-las.

Pode talvez tocá-las com os dedos

quando as encontra escritas,

experimente agora.

E por mais suave e sensível

seja seu toque,

pouco poderá saber delas.

Você não pode comê-las,

pode apenas ler e ouvi-las

e tentar entender seu sentido,

mas não há sentido nenhum,

não pode ser sentido.

Sua substância é a mesma

que compõe o vento,

mas as palavras não agitam seus cabelos

nem arrepiam sua pele,

não têm dimensão.

Você não pode bebê-las 

nem usá-las como um bálsamo,

não pode colhê-las.

Não pode nem mesmo percebê-las,

pois digo uma coisa

e você ouve algo diverso,

e nada pode ser definido

em palavras.

E no entanto

você não pode viver sem elas.

Estão em seu pensamento

todo o tempo

quando não é silêncio,

e o que você diz de algo

não é a coisa em si,

e o que tem da coisa no que diz

está no silêncio entre as palavras,

no espaço entre elas.

E o espaço é um lugar

muito perto do nada.

Palavras...

O que quero dizer

não pode ser dito

nem escrito,

você não pode saber

o que sinto.

Olhe em meus olhos

profundamente

e só verá o escuro,

o negrume que os guia para a luz

e, ainda assim, negrume. 

E ver o escuro

é muito perto de nada ver.

Tente tocar minha pele

como tentou tocar as palavras

agora há pouco. 

Pouco poderá saber de mim,

a não ser que habito um corpo

que não possuo

entre os segundos que pontuam a eternidade.

Minha morada

é o nada entre um tempo e outro tempo,

e seu toque desfaz

o pouco que restava de mim,

deixando apenas em seus dedos

o brilho sutil como um pó

do que fora a asa de uma borboleta 

que me sonhou.

Palavras, palavras, palavras,

não posso tocá-la

com elas,

nem com meus dedos,

nem posso bebê-la com meus lábios,

não posso dizê-la.

Sou o silêncio entre elas

o espaço entre estrelas

que já se extinguiram,

mas cuja luz viaja infinitamente,

e as palavras

nada podem dizer do silêncio que as contém.
                                                                                                Pomar.

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